Uma cirurgia com quase dez horas de duração em 3 de agosto, precedida por uma operação via helicóptero para captação do órgão doado, marcou o início do programa de transplante de pulmão do Instituto Nacional de Cardiologia (INC). A paciente, uma mulher de 35 anos, cuja identidade é mantida em sigilo por determinação legal, passa bem.
O programa supre uma carência histórica do sistema de saúde do Estado do Rio de Janeiro. Como não há tempo para transportar um órgão doado para outro estado, pacientes do Rio que necessitam de transplante de pulmão precisavam se mudar para São Paulo ou Porto Alegre. Aqueles que não tinham recursos ou condições para se mudar, muitas vezes, morriam em função de doenças pulmonares.
Este é o primeiro programa regular de transplante de pulmão no estado, onde a última cirurgia deste tipo aconteceu há cerca de 15 anos e sem o estabelecimento de um serviço contínuo.
"Nossa previsão é realizar inicialmente de oito a 12 transplantes de pulmão por ano aqui no INC, número que deve aumentar gradativamente. A cirurgia, posso dizer, foi histórica e representa uma conquista para a saúde pública do Rio de Janeiro e Brasil", afirma dr. João Manoel Pedroso, cardiologista e diretor-geral do INC.
A carência de serviços de transplante de pulmão é nacional. Em 2019, havia no Brasil 1.668 pacientes com necessidade do transplante, segundo estimativa da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). Mas foram realizados apenas 106 transplantes no país em 2019, segundo a ABTO, quase todos em centros em São Paulo e Porto Alegre.
A cirurgia de 3 de agosto foi a primeira realizada pela equipe do programa, liderada pelo dr. Alexandre Siciliano, que conta com aproximadamente 30 profissionais, incluindo quatro médicos cirurgiões, dois pneumologistas, um infectologista, um cardiologista, um imunologista e quatro anestesistas, além de profissionais de enfermagem, fisioterapia, nutrição, psicologia e terapia ocupacional.
O trabalho começou às 7h de 3 de agosto, com o deslocamento de quatro profissionais da equipe para a captação do pulmão de um doador com morte cerebral num hospital na Região dos Lagos, no Estado do Rio. O trajeto de ida e volta foi feito por helicóptero, com a logística organizada pela Central Estadual de Transplantes do Rio de Janeiro.
Ainda pela manhã, a equipe do programa iniciou a preparação da paciente no hospital-sede do INC, em Laranjeiras. Ela sofre de uma doença rara, a linfangioleiomiomatose, conhecida pela sigla LAM, que afeta a capacidade do pulmão de trocar gases e pode levar ao óbito.
A cirurgia começou às 13h no moderno centro cirúrgico do INC. O pulmão chegou ao Instituto às 14h30, quando a equipe iniciou os delicados procedimentos de retirada no pulmão da paciente e substituição pelo órgão doado. A cirurgia só terminou às 23h e a paciente passa bem.
"Em pleno século 21, o Estado do Rio de Janeiro não ter um programa que possa oferecer tratamento para pacientes com doença pulmonar em estágio avançado, era algo que nos incomodava muito", ressalta Alexandre Siciliano, especialista pelo The Cleveland Clinic Foundation.
"Há quatro anos iniciamos um projeto estruturado para poder oferecer o transplante pulmonar para nossa população, uma visão estratégica da Direção da instituição, que demandou a aquisição de novos talentos, treinamento e capacitação de equipes, investimentos em estrutura e processos e a formação de parcerias. Agradeço ao time liderado pelos doutores Samano e José Eduardo do Hospital Israelita Albert Einstein", enfatiza Siciliano, que também coordena o grupo de transplante cardíaco do INC.
Publicado em: 12/08/2021.
Elaborado por: Área de Comunicação INC
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