O Instituto Nacional de Cardiologia (INC), instituição de referência do SUS para tratamento de alta complexidade de doenças cardiovasculares no Rio de Janeiro, realizou esta sexta-feira mais um procedimento de vanguarda: o implante percutâneo de válvula em válvula tricúspide.
O procedimento consiste em implantar uma prótese valvar dentro de uma outra prótese do mesmo tipo que já está no corpo do paciente, para evitar a realização de uma cirurgia de substituição. De acordo com o médico Cesar Medeiros, Coordenador de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do INC, a prótese foi colocada por meio de um cateter e guiada unicamente com o ecocardiograma, pois a paciente tinha restrições ao líquido de contraste normalmente utilizado nessas intervenções.
Foi a primeira vez que esse procedimento foi realizado no INC e a segunda na rede pública do estado do Rio de Janeiro. Segundo o especialista, o procedimento é raro e relatos de caso são esparsos, o que fez com que a equipe tivesse que consultar os poucos profissionais com experiência no assunto como parte da preparação.
A paciente em questão é uma mulher de 56 anos que faz acompanhamento no INC há vários anos e já havia sido submetida a quatro cirurgias cardíacas para correção de problemas nas válvulas cardíacas causados pela febre reumática. Em julho, a paciente foi internada no Instituto com insuficiência cardíaca e desenvolveu severa disfunção renal, que requereu diálise. Embora a equipe tenha conseguido estabilizar a condição da paciente, ela permanecia restrita ao leito hospitalar.
O diagnóstico era de disfunção de uma prótese na posição tricúspide que a paciente recebeu em cirurgia anterior, em 2009. No entanto, a equipe concluiu que a paciente estava em condição muito frágil e poderia não resistir a uma quinta cirurgia. Além disso, também havia restrições ao líquido de contraste, que é prejudicial aos rins – como a paciente já estava com os rins debilitados, a utilização do contraste pioraria sua situação.
"O risco de uma quinta cirurgia era proibitivo. Começamos então a aventar alternativas e surgiu a opção de fazer um implante de uma válvula dentro da válvula que ela já tinha. A válvula é implantada por cateter, por uma incisão na virilha; é um procedimento que é feito mais comumente na aorta", conta o Dr. Cesar.
Segundo ele, a válvula usada na cirurgia não faz parte dos materiais disponíveis no SUS e não é usada para esse procedimento nem mesmo na rede privada. A equipe do INC conseguiu, então, a doação do material com o fabricante.
A intervenção teve muito sucesso e a paciente está no setor de pós-operatório do INC, em franca recuperação. Com a nova válvula, a equipe acredita que ela poderá retomar sua rotina normal.
A febre reumática, que causou os problemas cardíacos da paciente, é uma doença endêmica no Brasil e em outros países em desenvolvimento. De acordo com a cardiologista Clara Weksler, chefe do Departamento de Doenças Orovalvares do INC, ela ocorre depois de um episódio de amigdalite bacteriana tratado de maneira inadequada.
"Nem todas as crianças que têm amigdalite desenvolvem doença reumática, mas isso ocorre em alguns casos. O nosso setor de Cardiopediatria recebe muitos pacientes com esse quadro, mas muitas vezes a doença passa despercebida até anos depois," conta ela. "A maioria dos pacientes no nosso ambulatório de doenças valvares tem doença reumática."
A equipe do INC está sempre à procura dos melhores tratamentos para oferecer a seus pacientes. Os profissionais do Instituto trabalham em conjunto, para que especialistas em várias áreas possam oferecer diferentes perspectivas sobre os casos e juntos, chegar a soluções que melhorem a qualidade de vida dos pacientes.
Publicado em: 29/08/2022.
Elaborado por: Área de Comunicação INC
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